Um mártir por mundos infinitos
Giordano Bruno foi um filósofo, matemático e frade dominicano. Ele foi condenado à morte na fogueira pela Inquisição romana em 1600, sob a acusação de heresia por defender doutrinas como a pluralidade dos mundos habitados, a reencarnação, a não eternidade das penas, a infinitude do Universo, incompatíveis com as doutrinas ensinadas pela Igreja de então. Ele também foi condenado por questionar a infalibilidade do papa e por lutar contra a matança, em nome de Deus, de pessoas tidas por heréticas. O Espírito de Bruno se manifestou em nosso grupo, pela primeira vez, quando falávamos sobre ele. Depois, foi evocado algumas vezes, ou comunicou-se espontaneamente em diversas oportunidades. As comunicações reunidas nesta coletânea foram ditadas por vários médiuns, em diversos momentos.
Uma vez que a alma não pode ser encontrada sem o corpo e todavia não é corpo, pode estar neste ou naquele corpo e passar de corpo em corpo.
Giordano Bruno
(Julgamento de Veneza, 1592.)1
A seguinte comunicação foi ditada espontaneamente após termos lembrado desse notável filósofo cristão em nosso grupo, e termos comentado sobre sua inabalável fé. Ele manteve-se íntegro, mesmo no momento em que seu corpo físico ardia sob as labaredas da fogueira inquisitorial.
I
A liberdade da consciência tranquila ninguém nos pode tirar
"Venci o mundo, que derrotou meu corpo, porque a certeza da vida me tornou forte e a liberdade da consciência tranquila ninguém nos pode tirar.
Venci o mundo porque não me deixei levar por suas exigências, e mantive acesa a chama de um ideal que mudaria o meu mundo íntimo.
A todos chega o momento de testemunhar a sua fé. Aquele foi o momento da minha libertação, assim como hoje se apresenta, para muitos dos que aqui estão, o momento de viver como cristãos, sendo o exemplo vivo da doutrina que professam, pelo exemplo que dão aos que os observam, sejam os vivos ou os mortos."
Giordano Bruno
(Psicografada em 18 de outubro de 2010.)
No dia 17 de fevereiro de 2011 foi o 411º aniversário da morte de Giordano Bruno, imolado no Campo das Flores, em Roma. Ele foi evocado para falar-nos sobre sua entrada no mundo dos Espíritos. Eis o que ditou:
II
Eu pude, enfim, vislumbrar o Mundo Novo!
"Quase nunca, pouquíssimas vezes mesmo, eu via o mar.
A imagem do mar me trazia tranquilidade... eu gostava da tranquilidade.
Aquele azul do mar, que se confundia com o azul do céu, me levava a sonhar os mais belos sonhos... eu gostava de sonhar.
Sonhar com novos horizontes, com outros mundos... eu gostava de acreditar em mundos mais felizes.
Por fim, chegou o dia em que parecia que eu estava vendo o mar... e eu gostava daquela tranquilidade. E foi nesse dia que o céu realmente se confundiu com o mar e eu pude, enfim, vislumbrar o Mundo Novo!"
Giordano Bruno
(Psicografada no dia 1º de fevereiro de 2011.)
Buscando os conselhos e encorajamentos dos bons Espíritos, um médium do grupo recebeu, na intimidade, a seguinte comunicação:
III
Do meu exílio eu contemplava o infinito
"Do meu exílio eu contemplava o infinito...
Sabia que eu não era aquele corpo de carne, instrumento de progresso, que me detinha por um tempo na Terra. Tinha sede de infinitude, amava a vida, amava a liberdade, amava Deus, meu Criador... Queria voar livre para o seu regaço, contemplar a vastidão dos céus e aprender com aqueles que abarcam com o pensamento o infinito e nele se embevecem, distribuindo luz a quem a busca.
Minha alma se agitava, ela queria voar... mas esperava, orava, contemplava pelo pensamento o infinito azul, e, num arroubo de desejo elevava-se para inebriar-se de eternidade, aspirar o perfume do Infinito e alimentar a esperança, até que o Eterno rompesse os laços que a mantinham cativa ao finito.
O finito não pode abarcar o infinito, mas o Infinito tudo abarca, tudo vitaliza, tudo preenche...
Aspire o infinito, ame o Infinito, deseje o infinito e viva-o desde agora, mesmo que só possa percebê-lo pela estreita janela de sua 'cela', no exílio em que por ora estás matriculado."
Giordano Bruno
(Psicografada em 27 de maio de 2012.)
As duas comunicações seguintes foram ditadas em reunião familiar comemorativa dos mortos, em que fora feito um agradecimento especial a Giordano Bruno, por ser ele um dos guias do grupo.
IV
Tudo é possível quando se tem desejo sincero e vontade firme
"Quero falar-vos hoje que tudo é possível quando se tem o desejo sincero de chegar a um objetivo e a vontade firme para persegui-lo.
Se hoje não existem mais perseguições sangrentas àqueles que alimentam ideais de justiça, elas existem de forma velada nas opiniões daqueles que veem na vida do corpo a única oportunidade de ser feliz; é contra essas ideias, aceitas pela maioria e reforçadas pelo sistema egoísta vigente nesse mundo, que deveis travar uma luta sem descanso, a fim de não deixar que tomem a vossa alma; ou para expulsá-las caso já as tenhais deixado entrar.
Outro obstáculo ao progresso para o qual deveis voltar a atenção, são as más paixões e os vícios que ainda vos infelicitam; esses inimigos velados que carregais na alma precisam ser observados, identificados e combatidos com toda determinação; pois, se a sociedade está cheia de injustiças, lembrai que sois parte dela e que podeis fazer a diferença, eliminando da intimidade esses inimigos para que possais ser o exemplo da justiça, do amor e da caridade que desejais ver nesse mundo. O exemplo tem mais força do que mil palavras.
Lembrai que o que se leva ao deixar a vida do corpo é o progresso realizado, e que os melhores aperfeiçoamentos são aqueles feitos na alma porque são perenes. Buscai a calma na consciência reta, nos pensamentos justos e bons; buscai desenvolver a fé, que é a fortaleza da alma e o suporte nos momentos de tempestade.
Lembrai também que estamos sempre a velar por vós; por amor aceitamos essa missão e nossa felicidade é ver-vos crescer como Espíritos, a fim de que possamos seguir lado a lado, elevando-nos para Deus."
Giordano Bruno
(Psicografada em 02 de novembro de 2016.)
V
A morte do homem velho
"Deus, meus amigos, a todos nos criou para a felicidade eterna, e se hoje cumprimos a sua vontade é porque mão compassiva um dia nos socorreu da nossa impiedade, e nos convidou a seguir a verdade.
Outrora, as grandes conquistas me fizeram temido e reconhecido pelos homens, que atribuíam mais força à espada unida à inteligência do que a inteligência unida ao amor. Encarnei aquele que na história ficou conhecido como Nero, imperador romano. Quando, após deparar-me com os horrores que cometi e de arrepender-me, voltei à Terra muitas vezes, em encarnações obscuras, para refazer o caminho e libertar-me do velho homem que o orgulho insistia em deixar vivo dentro de mim.
As sucessivas encarnações foram dissolvendo as brumas que embaçavam a minha visão, e, após longo tempo, solicitei a Deus uma missão cujo objetivo era servir com simplicidade e utilizar a inteligência para o bem, e Deus permitiu que eu retornasse à Terra para dar um passo a mais no progresso, colaborando para que os homens pudessem ser mais livres.
Hoje estou aqui como prova de que Deus reúne, mais dia, menos dia, com o apagar da chama das paixões grosseiras, oprimidos e opressores para sentar à mesma mesa, a fim de que todos nos estendamos as mãos e sirvamos apenas, gozando da melhor paga que podemos ter: a consciência tranquila.
Segui esforçando-vos para servir e viver com doçura. Nós secundaremos os vossos esforços para que possais, mais livres, vos unir a nós no trabalho de servir ao Pai, e desfrutar das mesmas delícias.
Do amigo,
Giordano Bruno."
(Psicografada em 03 de novembro de 2016.)
Após a leitura da dissertação "Missão do homem inteligente na terra"2, evocamos Giordano Bruno e lhe pedimos que nos ditasse uma instrução sobre o uso da inteligência. Eis o que foi ditado:
VI
Sobre o uso da inteligência
"A inteligência não é uma arma, e nunca poderá assim ser utilizada sem graves consequências para aquele que dessa forma a emprega. Por vezes, a sutileza com que as manobras da inteligência do ser humano se apresenta aos vossos olhos pode fazer-vos crer que sois muito superiores aos animais, que se digladiam fisicamente, chocando corpo contra corpo, num triste espetáculo do qual é impossível sair sem mutilações no instrumento do combate. No entanto, se vísseis pela perspectiva do Espírito, perceberíeis que muito mais lamentável é a cena de dois seres que se agridem mutuamente nos duelos da inteligência. Quão mais poderoso é o efeito destrutivo desse talento divino que muitos teimam em transformar em arma! Quão arrasadoras são suas consequências, pois a inteligência agredida, muito mais lenta e dificilmente se recupera do que o corpo. O mesmo vale para a agressora; pois, se é verdade que nem sempre se mancha com o sangue alheio, nem por isso deixa de ser severamente prejudicada ao imprimir num instrumento divino, que lhe fora concedido pelo Criador, o selo do egoísmo e do orgulho que o maculam.
Temei, pois, cem vezes mais, utilizar-vos de vossa inteligência em prejuízo do próximo, por menor que vos possa parecer tal prejuízo, pois nenhum ferimento físico, mesmo os fatais, tem mais rigor no tratamento que recebem da justiça divina.
Falo-vos isso pois sei que quereis sinceramente dar bom uso à vossa inteligência.
É necessário, no entanto, que, antes de tudo, saibais que uso não deveis dar a ela. Assim sendo, evitai as ofensas disfarçadas de ironia; evitai as censuras aparentemente ocultas, mas que apresentam uma pequena brecha habilmente deixada a descoberto; evitai levar a confusão aos que não pensam como vós, sob a escusa de esclarecimento. Em resumo, fugi apressadamente de toda atitude prejudicial que vossa inteligência possa gerar para o vosso próximo, a fim de que não preciseis futuramente pedir a Deus que vos retire um instrumento que temeríeis utilizar, devido ao hábito de mal empregá-lo.3
Sim, a inteligência, ainda a mais medíocre, pode ser usada como arma, e pode assim ferir o semelhante. Seu potencial destrutivo pode ser infinitas vezes mais devastador do que as armas físicas que conheceis. Deveis lembrar-vos que o Universo é obra da Inteligência Suprema que, em sua infinita bondade e sabedoria, vos dotou com o gérmen dessa gloriosa faculdade e vos mostra diariamente, pela grandeza da Criação, o que podeis fazer de bom e de belo com tão precioso dom.
Giordano Bruno, outrora Nero."
(Psicografada em 19 de novembro de 2016.)
Observação: essas comunicações foram recebidas por seis médiuns diferentes, ao longo do tempo.
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1 Do livro: Reencarnação, o elo perdido do Cristianismo, de Elizabeth Claire Prophet, Nova Era, 2ª ed., 1998.
2 O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VII - Bem-aventurados os pobres de espírito - Instruções dos Espíritos - Missão do homem inteligente na terra
3 O Livro dos Espíritos - Parte Segunda - Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos, cap.VII - Da volta do Espírito à vida corporal - Idiotismo, loucura.

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